terça-feira, 20 de maio de 2008

SERVIÇO SOLIDÁRIO: TORNANDO O EVANGELHO VIDA

OS POBRES SERVOS DA DIVINA PROVIDÊNCIA SEMPRE PROCURARAM ESTAR PRESENTES ONDE A HUMANIDADE NÃO TINHA O QUE ESPERAR. LEVAR A OBRA CALABRIANA AOS MAIS NECESSITADOS, AOS MAIS POBRES E HUMILDES É PROMOVER O AMOR AO PRÓXIMO, OU SEJA, MANIFESTAR EM TODA A SUA PLENITUDE A DIVINA PROVIDÊNCIA.
IR. GEDOVAR NAZZARI JÁ PERCORREU DIVERSOS LUGARES NO BRASIL E CONTA, NA ENTREVISTA DA REVISTA A PONTE, 3ª EDIÇÃO - 2007, UM POUCO DE SUAS EXPERIÊNCIAS COM AS OBRAS SOCIAIS DESENVOLVIDAS PELA CONGREGAÇÃO.

A PONTE – QUAIS AS MOTIVAÇÕES QUE O LEVARAM A SE DEDICAR ÀS ATIVIDADES SOCIAIS NA CONGREGAÇÃO POBRES SERVOS DA DIVINA PROVIDÊNCIA?
Ir. Gedovar Nazzari – A Congregação Pobres Servos da Divina Providência se confunde com atividade social, isto é, São João Calábria repetitivamente salientava que nós devemos ir sempre onde humanamente não há nada a esperar, aos mais pobres, aos humildes, aos excluídos; pois é desta forma que se manifestará melhor a Divina Providência, enfim, que Deus é Pai e Mãe. Também não podemos nos esquecer que a história da acolhida do menino pobre, feita por S. João Calábria, marca o inicio da Congregação.
Por outro lado, pessoalmente sempre tive uma tendência nata a me colocar a serviço desta causa, isto é, de tentar fazer alguma coisa no sentido de tornar a sociedade mais humana e menos excludente; causa esta, que se coaduna com a da Congregação. Desta forma tenho que salientar também, que os superiores, sem dúvida, percebendo esta tendência, ou chamado, sempre me solicitaram a colaborar na Congregação com atividades nesta esfera.
Hoje, ainda mais, não tenho dúvidas de que a atenção, o amor e serviço solidário aos mais pobres são uma forma atualíssima de testemunho do carisma, e de tornar o Evangelho vida.

AP – NA SOCIEDADE DE HOJE A VISÃO ECONOMICISTA É PREPONDERANTE. NA SUA ÓTICA, É POSSÍVEL ATUAR EM UMA ORGANIZAÇÃO CIVIL SEM SE DEIXAR INFLUENCIAR POR ESSA CORRENTE?

Ir. Gedovar – Sem dúvida que é possível, mas não que seja fácil, pois está enraizada fortemente em nosso imaginário e impregnada, por todos os lados, na sociedade atual, a idéia de que todas as soluções passam pela esfera econômica, basta observarmos nos noticiários a importância que é dispensada para a situação das bolsas e a cotação do dólar. Desta forma, corre-se o perigo real do econômico definir as ações e objetivos pessoais e das organizações a que pertencemos. Agindo desta forma, certamente, perde-se a originalidade profética da Congregação, distancia-se da realidade dos pobres e, conseqüentemente, da vida e dos problemas sociais que nos cercam.
Para superarmos esta visão, e sermos fiéis à nossa missão, tanto pessoal de cristãos, como institucional, nossos objetivos e ações precisam ser orientados pela óptica da solidariedade, da ajuda mútua, assim como nos ensinou o tempo todo São João Calábria. Norteados por esse objetivo, daí sim, podemos agir nas atividades como ele nos dizia, que não é por falta de meios econômicos que devamos deixar de atender aos pobres, de escutar e promover a vida nos lugares onde ela é mais desprezada e ferida e nos indignarmos com a exclusão de irmãos e irmãs.
Com referência aos meios, também econômicos, para esses objetivos, a Providência Divina proverá. Uma vida vivida de forma solidária, a serviço dos últimos, mais do que nunca, hoje é um testemunho de abandono total à Divina Providência.

AP – OS ÓRGÃOS PÚBLICOS DE CERTA FORMA PRETENDEM SUPRIR AS NECESSIDADES DE ASSISTÊNCIA DA SOCIEDADE, ATRAVÉS DE POLÍTICAS PÚBLICAS. NESTE CENÁRIO, QUAL SERIA A FUNÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES CIVIS, JÁ QUE O ESTADO DESENVOLVE ESTA ATIVIDADE?

Ir. Gedovar – O projeto denominado neoliberal em que vivemos hoje, entre outras mudanças, preconiza a reforma do Estado. Isto é, prevê uma reestruturação, uma retirada da responsabilidade do Estado para com as questões sociais da sociedade, saúde, educação, previdência e assistência, etc; passando, tudo o que se pode comercializar, para o setor privado, e os casos sociais mais graves e urgentes, para o assim chamado “terceiro setor”.
Não devemos ter a preocupação, então, de que o Estado vá substituir as Organizações Civis nas atividades sociais. Hoje, pelo contrário, devemos gritar NÃO à substituição da responsabilidade estatal no trato com a “questão social”. E pode-se dizer SIM para o caráter de complementação que historicamente já vem sendo dado pelas Organizações Civis Solidárias. E se outras tantas organizações sociais estão surgindo, excelente, pois ampliarão e serão de grande contribuição no combate às injustiças sociais, provocadas pela ganância do sistema capitalista. Contudo, nunca se pode esquecer que nenhuma esfera, pelo menos no sistema econômico em que vivemos, será capaz de substituir o Estado na sua obrigação com a cidadania plena.
As Organizações da Sociedade Civil, neste cenário, necessitam, portanto, estar atentas para que o Estado assuma sua responsabilidade de assistir às pessoas que necessitam. Um meio que as Organizações Civis possuem para responsabilizar o Estado com a questão social é precisamente, a participação nos conselhos, fóruns e em outras instâncias a que têm direito.

AP – A PARTICIPAÇÃO DOS ATORES ENVOLVIDOS NA ORGANIZAÇÃO CIVIL SOLIDÁRIA É UM PRESSUPOSTO FUNDAMENTAL,QUE AFIRMA QUE DE FATO ESTA ORGANIZAÇÃO É SOLIDÁRIA. NA SUA CONCEPÇÃO, QUAIS AS FORMAS DE PARTICIPAÇÃO QUE PODE OCORRER EM UMA ORGANIZAÇÃO CIVIL SOLIDÁRIA?

Ir. Gedovar – Segundo afirma a autora Carole Pateman, em seu livro “Participação e teoria democrática”, Rousseau, um teórico por excelência da participação, apóia toda sua teoria política na participação individu al de cada cidadão no processo político de tomada de decisões. Desta forma, a participação, na tomada de decisão, faz com que os indivíduos e suas organizações estejam constantemente em relação.
Diz ainda que a participação na tomada de decisão pode ocorrer de três formas: a participação pode se expressar na instituição na forma de pseudoparticipação, isto é, quando a direção, na figura de seu diretor, toma uma decisão e posteriormente promove uma reunião, uma discussão, utiliza-se até de palestras motivacionais, para que os membros se sintam participantes, mas eles não têm força de decisão. Pode ocorrer, também, o que a autora chama de participação parcial; esta forma acontece, quando todos os integrantes da organização, e interessados no assunto, discutem o tema mas quem dá a ultima palavra, quem decide é a direção ou o diretor. E nas organizações pode acontecer, também, a participação plena ou total; essa forma consiste em um processo no qual cada membro isolado de um corpo deliberativo, de uma Organização, tem igual poder de determinar uma decisão. Enfim, é quando todos os integrantes e colaboradores da Organização discutem e decidem. Os exemplos mais comuns desta forma de participação são os grupos auto-geridos, auto-organizados; hoje, muito incentivados pelo método de gestão por competência.
É claro que pode ocorrer, também, que em uma Organização Civil as decisões sejam tomadas sem participação. Isso acontece quando as políticas, programas e projetos da Organização são feitos e decididos pelo mínimo de pessoas, quando não por uma única pessoa. Portanto, não há participação, quando os agentes envolvidos na Organização Civis não são convocados para tomar uma decisão; estas Organizações Civis podem se considerar solidárias mas na sua prática não o são, porque não dão oportunidade para as pessoas se desenvolverem como cidadãos.

AP – OUVE-SE FALAR MUITO, ATUALMENTE, SOBRE AS TRÊS ESFERAS DA SOCIEDADE, ESTADO, EMPRESAS E ORGANIZAÇÕES CIVIS. QUAL É A RELAÇÃO QUE EXISTE ENTRE ELAS?

Ir. Gedovar – As organizações empresariais, as organizações políticas e as organizações civis fazem parte da mesma ordem social. Todas deveriam ter como cenário geral o bem estar social das pessoas, isto é, que a vida social se desenvolvesse.
Faz parte das organizações empresariais desenvolverem as suas ações por meio do mecanismo do mercado, tendo o dinheiro, o lucro como objetivo. Este capital que elas produzem, que é justo, deveria ser aplicado para produzir mais e assim ajudar mais as pessoas e a sociedade e não somente para acumular. Sem dúvidas, que é importante que o Estado objetive a gestão dos assuntos públicos da sociedade, para que todos tenham mais cidadania e não usem o poder de forma absoluta. E a organização civil, é importante, como vimos anteriormente, que se estruture a partir de objetivos definidos com base na solidariedade e não que seus objetivos sejam o lucro ou o poder político.
A relação seria bem mais justa se, tanto o Estado, como as Empresas, estivessem em função da sociedade civil e não o inverso.

AP – COMO UMA ORGANIZAÇÃO CIVIL PODE EXPRESSAR, EM NOSSOS DIAS, A ESPIRITUALIDADE CALABRIANA?

Ir. Gedovar – O número cinco da Constituição da Congregação, mas se poderia indicar muitos outros escritos, nos diz que “a nossa missão especifica consiste em fazer ressurgir a fé no mundo”, esta fé e confiança em Deus Pai/Mãe Providente, testemunhamos através do “abandono total à sua Divina Providência e vivendo uma vida fraterna e solidária com os últimos”. Com isto, podemos facilmente concluir que as Organizações Civis, ligadas à Congregação Pobres Servos da Divina Providência, podem testemunhar e viver a espiritualidade calabriana, através do serviço aos excluídos; serviço este que desenvolva estas pessoas, isto é, que elas se sintam realmente “nossos donos” como dizia São João Calábria e não como meros favorecidos.
Poderíamos dizer então que uma Organização Civil, para expressar o espírito calabriano, entre outras coisas, tem que ser solidária com as pessoas com as quais se relaciona.

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