quarta-feira, 28 de julho de 2010

MÉTODOS DE GESTÃO E GESTÃO DO CARISMA

Durante as ultimas décadas do século passado e nos anos iniciais do século atual, conhecemos inúmeras transformações sociais produzidas, de modo especial, pela velocidade da informação e pelas novas tecnologias. É comum ouvirmos afirmações e alertas de numerosos autores conceituados de que estamos em uma “mudança de época”. E podemos perceber essas mudanças em todos os setores da vida social.

Na área da gestão, na ótica da administração de empresas, Chanlat (1999)[1] afirma que ocorreram três mudanças significativas nesse período: a hegemonia do econômico acima dos valores humanos e sociais; o culto da empresa; e a influência crescente do pensamento empresarial sobre as pessoas e a sociedade.

A hegemonia do econômico sobre as demais áreas situa-se na lógica do capitalismo, alicerçada na propriedade privada, no jogo de interesses pessoais, na concorrência, no utilitarismo e na busca do lucro e da acumulação que se impôs gradualmente em toda a parte.

No final da década de 1980, com a queda do Muro de Berlim, com o fracasso das soluções coletivas, e com a crise do Estado de bem-estar social, reforçou-se ainda mais a lógica das idéias da doutrina capitalista, a qual permaneceu como única proposta viável para o desenvolvimento econômico e social.

A consequência desta predominância da forma de pensar capitalista sobre o econômico e sobre o mercado foi que se atribuiu à empresa um espaço central na vida das pessoas. Mais especificamente, a empresa vista até então como um lugar de exploração, dominação e alienação, tornou-se fonte de riqueza e de cultura, destinada a resolver a maioria dos problemas com que a sociedade se defrontava.

A exaltação da empresa trouxe duas consequências imediatas para a área da gestão: a primeira foi que as organizações passaram a utilizar de forma generalizada os discursos e as práticas de gestão, inclusive as que não utilizavam esse discurso, como as de cunho religioso e solidário. A segunda consequência foi o aumento do número de cursos e de estudantes de administração em toda a parte do planeta.

Além disso, podemos constatar a predominância da idéia de gestão, na sociedade contemporânea, pelo uso comum que se faz das palavras “gestão”, “gerir” e “gestor”. Em todos os setores e organizações, essas palavras fazem parte da comunicação corrente cotidiana. Também podemos observar a exaltação da gestão nos dias de hoje pelo uso generalizado que se faz de princípios administrativos originários da empresa privada, como por exemplo: eficácia, produtividade, performance, competência, empreendedorismo, qualidade total, cliente, produto, marketing, desempenho, excelência, reengenharia, usuário; termos utilizados por organizações como escolas, hospitais, administração pública, serviço social e organizações civis solidárias.[2]

Na sociedade atual, tudo passa a ser uma questão de gestão e precisa ser gerenciado, passando pelos processos organizacionais, liderança de pessoas e até a vida afetiva e sentimental. Não temos duvidas de que a predominância de um modelo de gestão com essas características influência de modo significativo o tipo de sociedade e de organização social que estamos construindo.

Muitos autores consideram a gestão fundamental para o desenvolvimento das organizações civis solidárias. E enfatizam a necessidade de profissionalizar as pessoas que atuam nessa área, de modo especial as que desempenham papel de direção. Neste sentido, Peter Drucker (1992), um dos maiores autores contemporâneos de administração, afirma que somente através de gestores com sólida formação e domínio de técnicas administrativas, as práticas e políticas organizacionais se tornariam mais sistematizadas, articuladas e voltadas par alcançar seus objetivos[3]. Enfim, todos estão de acordo que a capacitação técnica é um fator importante para que a gestão seja bem sucedida.

Porém, por outro lado, é visto como um problema o fato de que as ferramentas e tecnologias de gestão a serem utilizadas para a capacitação dos gestores das Organizações Civis Solidárias venham das organizações públicas e privadas. A esse respeito, Mintzberg (1996) afirma que “a transposição de técnicas gerenciais oriundas da esfera privada ou pública não se dá de maneira linear e absoluta, esbarrando na especificidade da gestão social, característica das organizações civis solidárias”. Para esse autor, a organização civil solidária tem suas características, e, portanto, o linguajar utilizado deve ser distinto dos termos utilizados na gestão pública ou privada. Por exemplo, termos muito utilizados na gestão privada como cliente/usuário devem ser substituídos pelo termo cidadão/usuário[4]. Nesse sentido, seguindo esse pensamento, podemos acrescentar muitos outros termos a serem substituídos, como “renovação tecnológica para competir no mercado” por “renovação tecnológica para satisfazer as pessoas usuárias dos serviços” e assim por diante.

Desta forma, podemos concluir que para o uso de tecnologias de gestão oriundas das organizações privadas e públicas, em Organizações Civis Solidárias, o gestor deve adequar sua terminologia e seu método para melhor traduzir o carisma e a missão da organização que dirige.
São João Calábria, já no seu tempo, alertava-nos para o fato de que cada uma das organizações tem suas peculiaridades, diferenças, finalidades e objetivos que a distingue de outras organizações que podem até se assemelhar. Inclusive cada uma das organizações surgidas dentro da esfera da própria Igreja possui um chamado de Deus para um carisma e uma missão, e deve ser considerada e observada por todos que dela fazem parte, como ele muitas vezes afirmou:

“Existem muitas outras obras (organizações) santas provenientes de Deus na Igreja, mas não existe outra com esta fisionomia toda particular e especial que a Divina Providência revelou, especialmente nesse tempo, quando devemos proclamar a verdade e a realidade deste atributo da Providência de Deus”.[5]

Este alerta de São João Calábria nos faz pensar que a metodologia e a tecnologia da gestão de uma organização calabriana não podem ser copiadas e transferidas tal e qual de outra esfera social ou de outra organização, sem que antes se faça uma critica e uma adequação. Isto é, o método ou a tecnologia precisa se coadunar com o carisma e a missão da organização a que o gestor é chamado a conduzir.

Enfim, para o gestor calabriano estar em condição de fazer uma crítica dos métodos de gestão e da terminologia usada na esfera pública e privada, ele não pode ser simplesmente um conhecedor de processo técnico administrativo, mas deve ser também um profundo conhecedor do carisma e da missão que a organização está chamada a testemunhar e desenvolver na comunidade em que está inserida. Em outras palavras, o gestor calabriano não pode desconhecer ou ser um alienado com relação ao carisma e à missão da organização. Pelo contrário, o gestor calabriano precisa ser um estudioso apaixonado pelo carisma e pela missão, e acreditar na possibilidade de que esse carisma possa ser vivido na organização que dirige e na comunidade onde está inserido. Somente dessa forma a atividade chega a bom termo e cumpre com seus objetivos fundacionais. Assim, não podemos nunca esquecer que o gestor calabriano, além de ser um conhecedor dos processos administrativos, é um gestor do carisma e da missão que se expressam no princípio da gratuidade.

Ir. Gedovar Nazzari


[1] CHANLAT, Jean François – Ciências Sociais e management: Reconciliando o econômico e o social. São Paulo. O autor é professor titular da École dês Hautes Études Commerciales de Montreal no Canadá e professor associado à IECS da Universidade Robert Schuman de Strasburg na França. É coordenador da obra O indivíduo na organização: dimensões esquecidas.Atlas-1999. P. 15, 16 e 17.
[2] Chanlat afirma que as mudanças que observamos atualmente tiveram sua origem nas grandes revoluções políticas de modo especial na francesa e na americana, e na revolução industrial com a afirmação da razão e do progresso. A partir dessas revoluções, “sabemos que entramos em uma sociedade em movimento, ritmada pelo crescimento econômico e as aspirações democráticas”. Na realidade, a fusão do liberalismo econômico com e político criou condições trágicas para a vida humana, gerando criticas de inúmeros pensadores. Nesse sentido, ele diz: “que o liberalismo em geral tenha tido uma contribuição significativa do que somos hoje ninguém pode negar. Entretanto, não é menos verdadeiro que a dinâmica do capitalismo situada na origem dessas transformações sociais jamais se caracterizou por um humanismo transbordante”. Muitos autores caracterizaram esse aspecto pouco humano do capitalismo em seus escritos, “podendo-se mencionar, por exemplo, Schumpter (1984), que caracterizou a dinâmica capitalista como “A destruição criativa”.
[3] Teodósio, Armindo dos Santos Souza. Organizações não-governamentais entre a justiça social e a eficiência gerencial. Civita: Revista de Ciências Sociais. PUCRS – Ano 1, n. 1 (junho 2001). – Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.
[4] Ibidem
[5] São João Calábria. Doc. 5473 – 23.4.1954. Citado no documento do X Capitulo Geral, 2008, p. 6.

EMPREENDEDORISMO SOCIAL CALABRIANO


O Gestor Calabriano deve ser um empreendedor social e um gestor da missão e do carisma. Mas para entender essa afirmativa necessitamos compreender o que quer dizer o termo empreendedor social.

O termo empreendedor é muito utilizado na esfera da gestão para se referir a pessoas que têm competência e criatividade, persistência, liderança, iniciativa, flexibilidade, habilidade para conduzir situações diversas e adversas e visão para dar-se conta das possibilidades que tem ao seu redor para colocar em prática e expandir a missão organizacional.[1]

Porém, devemos reconhecer que essa palavra foi associada deliberadamente à área de negócios, com vistas à obtenção de lucro, sem a devida importância com as consequências sociais. Em outras palavras, o empreendedorismo de negócio nem sempre deu ao termo empreendedorismo o cunho social que ele possui.

Na verdade empreendedor define-se como a pessoa que se compromete com um projeto ou atividade significante e que provoca mudanças na sociedade. Podemos afirmar que existem dois tipos de empreendedor: o empreendedor de negócios e o empreendedor social. O empreendedor social diferencia-se do empreendedor de negócios, porque possui uma missão social, em que o objetivo final não é a geração de lucro, mas o impacto que sua ação social causa na comunidade local e muitas vezes com consequências globais. Enfim o empreendedorismo social não tem finalidade econômica, mas humana e social; deseja contribuir para a criação de um mundo melhor e que defenda a vida.

Nesse sentido, Gregory Dees (1998) define com muita clareza o que é ser um empreendedor social. Para o autor, empreendedor social é “uma das espécies do gênero dos empreendedores”. Porém, acrescenta que eles “são empreendedores com uma missão social. Os empreendedores sociais têm o papel de agentes de mudanças no setor social". E Dees aponta cinco características comuns para um empreendedor social. Que são:

1) "Adotar uma missão de gerar e manter valor social;
2) "Reconhecer e buscar implacavelmente novas oportunidades para servir a tal missão";
3) "Engajar-se num processo de inovação, adaptação e aprendizado contínuo";
4) "Agir arrojadamente sem se limitar pelos recursos disponíveis";
5) "Exibir um elevado senso de transparência para com seus parceiros e público e pelos resultados gerados".
[2]

Como exemplo de empreendedor social, pode ser citado São João Calábria. Porque todo o seu agir tinha um único objetivo, que era o de levar as pessoas a uma vida mais santa e feliz e a uma sociedade melhor para se viver. Além do mais, toda a sua ação foi conduzida por uma profunda clareza da missão, coragem de empreender iniciativas inovadoras, e seus projetos não se limitavam aos recursos financeiros. Sua missão era fortemente fundamentada na certeza da paternidade de Deus e por isso seu empenho era o de criar uma sociedade mais livre e fraterna. Enfim, ele sonhava com uma “nova ordem”, fundamentada no espírito do Evangelho.

Nesse sentido, é muito ilustrativo o fato ocorrido no primeiro compromisso pastoral de Pe. Calábria, após sua ordenação Sacerdotal, no Oratório Santo Estêvão, na atividade de assistência aos jovens. Escreve Gadili (2001) que, para essa atividade, a Paróquia disponibilizava de uma área física limitada, isto é, o local tinha somente uma entrada relativamente ampla, um teatro e uma sala multifuncional, a qual era usada para praticamente todas as atividades paroquiais, inclusive as reuniões do pároco. Ocorria que, com esse exíguo espaço, nos dias chuvosos e frios, comuns em uma boa parte do ano na Itália, a sala nem sempre estava disponível para os jovens, os quais ficavam do lado de fora, expostos às intempéries.

Esse fato foi o suficiente para aflorar o espírito de empreendedor social em São João Calábria. Ele logo se deu conta de que precisava construir um espaço favorável para acolher esses jovens. E partiu para a ação, elaborou um projeto e apresentou-o ao Pároco, o qual autorizou a realização da construção, porém, logo foi esclarecendo, que a Paróquia não possuía os meios necessários para efetivar tal projeto.

Diante da primeira dificuldade econômica, ele não cruzou os braços, não desistiu, mas renovou sua persistência e fé na Providência, e foi falar com seu amigo e benfeitor Francisco Perez, que também constatou a utilidade do projeto para atender aos jovens do bairro e se empenhou em providenciar o material, enquanto Calábria buscou os operários com ajuda da própria paróquia. O resultado foi que em pouco tempo o novo espaço estava construído para abrigar os jovens que frequentavam o oratório. E a nova construção possibilitou o atendimento de um número maior de jovens em situação de vulnerabilidade social.[3]

Muitas outras iniciativas empreendedoras de São João Calábria poderiam ser citadas. Porém, o mais importante é reconhecer que, a exemplo de São João Calábria, o gestor calabriano precisa possuir um espírito de empreendedor social. Isto é, o gestor calabriano precisa ter clareza do significado que tem o carisma e a missão a que é chamado a conduzir. Necessita ter Espírito de disponibilidade e transparência para partilhar a missão: em primeiro lugar com as pessoas que participam da atividade, de modo especial com os Conselhos e colaboradores, e depois com a comunidade alvo, com as parcerias e com a sociedade mais ampla.

Além disso, o empreendedor calabriano precisa ser um empreendedor social com boa dose de coragem para arriscar, muito além dos cuidados com os processos administrativos; e principalmente, enxergar ao seu redor as possibilidades para desenvolver e para pôr em prática a missão organizacional, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
Em síntese, o Gestor calabriano precisa ser um empreendedor social que se ocupe antes de tudo com a gestão da missão e do carisma. Somente assim, a atividade conduzida por ele se tornará luz que ilumina o mundo atual, como era o desejo de São João Calábria.

Ir. Gedovar Nazzari


[1] REGINATO, Antonio Paulo. Equipes campeãs: Potencializando o desempenho de sua equipe/ Antonio Paulo Reginato; Rosana Fraga Pinheiro. 2 Ed – Porto Alegre: SEBRAE/RS, 2004.
[2] Dees, Gregory J. O Significado de Empreendedorismo Social. Universidade de Stanford, 1998. http://www.academiasocial.org.br/ – Acesso em: 14/06/2010.
[3] Gadili, Mario. São João Calábria: bibliografia oficial – São Paulo: Paulinas, 2001.

terça-feira, 2 de março de 2010

ECONOMIA E VIDA NO CARISMA CALABRIANO

A Campanha da Fraternidade Ecumênica 2010 com o tema “Economia e Vida”, e com o lema “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt. 6,24), tem uma relação profunda com o Carisma Calabriano.

De fato, o “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça, e todo o resto vos será dado por acréscimo” (Mt 6,33), versículo este que inspirou São João Calábria a fundar as Congregações dos Pobres Servos e das Pobres Servas da Divina Providência e de todos os movimentos que compõem a família calabriana; é a conclusão da afirmativa de Jesus em Mt 6,24: “Ninguém pode ser servo de dois donos. De fato, ou odiará um e amará o outro, ou irá ao encontro de um desprezando o outro. Não podeis servir a Deus e o dinheiro”.

E dessa forma podemos afirmar, também, que o “Não vos preocupeis, portanto, com o amanhã...”, é o modo de viver da pessoa que acredita e busca somente o reinado de Deus Pai, acima do dinheiro. Afinal, quando servimos somente a um único dono, isto é, somente a Deus, e não ao dinheiro, Deus se torna único na nossa vida, Ele se torna como um pai que se preocupa com todas as exigências que se impõem ao viver humano. Daí é que vem nossa confiança e nossa fé na Divina Providência. Deus é Pai, mãe e cuida de todos seus filhos.

“Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”, é uma frase que pode ser usada para muitas coisas que ameaçam a primazia de Deus na nossa vida, como o poder, a fama e os prazeres. Mas para Jesus, os dois senhores são mesmo Deus e o dinheiro.

Podemos entender o dinheiro no texto de Mateus 6,24 através de duas maneiras. Isto é, podemos entender esta afirmativa de Jesus através da ótica da moral ou através da ótica das relações sociais.

Enxergamos na ótica da moral, quando dizemos que devemos ter com o dinheiro um comportamento de desapego, não sermos avarentos, gananciosos e egoístas. E acreditamos que isso é suficiente para vivermos o Evangelho com relação ao dinheiro. Todos nós reconhecemos que esse modo de agir são expressões erradas, que colocam o dinheiro em uma posição contrária e acima de Deus, tornando-se um valor absoluto na vida das pessoas.

Por outro lado, temos que admitir que a maneira como está organizada a vida em sociedade atualmente nos faz extremamente dependentes do dinheiro. A realidade é que nos tornamos necessitados e desejosos do dinheiro para sobrevivermos. Afinal, todos nós precisamos de dinheiro para comprar alimentos e pagar as contas.

Ao interpretar o texto de Mateus 6,24 somente como desapego, podemos nos tornar escrupulosos com relação ao dinheiro, individualistas e intimistas e, desta forma, não conseguimos enxergar que o dinheiro é uma peça fundamental na organização econômica, social e política da sociedade contemporânea.

Segundo a teoria da sociedade de livre mercado, só o trabalho gera capital, dinheiro. O problema é que na realidade existe capital sem a necessidade do trabalho, como a terra e as inúmeras fontes de energia, incluindo a fauna e a flora. Além do dinheiro, que, na especulação financeira, gera dinheiro, e que não é investido na geração de trabalho. Para Rousseau (1999), a apropriação privada de tais bens os transforma em capital privado, provocando na sociedade uma imensa desigualdade entre as pessoas que têm muitas posses e as pessoas que não têm nada. Dessa forma, parece que na sociedade contemporânea, não vivemos em um sistema de livre mercado.

O dinheiro é tão importante na sociedade em que vivemos hoje, que ela foi chamada de capitalista pelos primeiros estudiosos, por se tratar de um sistema social que dá a hegemonia do processo histórico ao capital, aos bens e ao dinheiro. Nesse modelo social, é o dinheiro que decide nas opções políticas, nas ações administrativas e financeiras, decide como resolver as tensões sociais, na escolha da profissão e influencia, inclusive, no número de filhos das famílias.

Para Jesus, no Evangelho de Mateus 6,24, o dinheiro é símbolo de um sistema que escraviza. Por isso, Jesus chama o dinheiro de mamona. Mamon não é exatamente dinheiro, na forma especifica de moeda, como denário ou talento, que Jesus também usa para o pagamento do salário dos trabalhadores de última hora. Mamon é um deus pagão que tem por objetivo favorecer o enriquecimento de seus adoradores.

Mamon representa o sistema financeiro, cuja moeda governa a vida das pessoas e é uma ameaça constante à liberdade das mesmas. Para Jesus e os discípulos, esse deus é iníquo e deve ser dispensável em favor de uma sociedade justa, fraterna e solidária.

A Campanha da Fraternidade quer nos “educar para a prática de uma economia de solidariedade”. A solidariedade entendida como um espaço social, no qual as ações do tipo cooperativo são coordenadas com base na presunção de interesses, normas e valores comuns, relativizando interesses individuais e interesseiros.

O exercício da fraternidade e da solidariedade na economia é uma maneira de dar forma prática a nossa fé e ao nosso abandono na paternidade de Deus. Podemos afirmar que defender uma economia que leve em conta os princípios da fraternidade, da solidariedade e da comunhão, é dar consistência a uma “Ordem Nova ou Nova Ordem” tão falada e desejada por São João Calábria. Afinal, somente venceremos um sistema econômico que nos diminui em “coisa” se cremos e aceitamos que Deus seja o único em nossa vida. Além do mais, é somente acreditando que Deus é nosso Pai Providente, é que o nosso irmão pobre se tornará visível e cidadão.

BIBLIOGRAFIA
AVILA, Fernando Bastos de, Solidarísmo: alternativa para a globalização, Ed. Santuário, Aparecida, SP: 1997.
CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, Campanha da Fraternidade 2010: Manual. Brasilia, Edição CNBB. 2009.
LARA, Valter Luiz, Vida Pastoral, Ed. Paulus, março-abril 2010 – ano 51 – n. 271.
Leitura Teológica do “Buscai primeiro...”. Em Pe. João Calabria, Estudos Calabrianos, 1999.