quinta-feira, 27 de outubro de 2011


GESTÃO COM PESSOAS NA ÓTICA DA GESTÃO SOLIDÁRIA


Considerando que a solidariedade é uma virtude eminentemente cristã e que está presente desde o início da Obra Calabriana, sem sombra de dúvida, a Gestão com Pessoas deverá ser pautada igualmente pelo princípio da solidariedade. Além do mais, devemos sempre lembrar que a solidariedade praticada na relação entre as pessoas no ambiente de trabalho e na relação entre a organização e a situação em seu entorno é um dos principais meios de testemunhar que Deus é Pai.

Segundo a doutrina da Igreja Católica, os problemas socioeconômicos somente poderão ser resolvidos com o auxílio de todas as formas de solidariedade: solidariedade das pessoas com necessidades entre si, das pessoas que possuem bens com os que não possuem, dos colaboradores entre si, dos líderes com os colaboradores. É da solidariedade vivida em todas as esferas que depende a paz mundial.

Na prática, a solidariedade “manifesta-se, antes de tudo, na distribuição dos bens e na remuneração do trabalho. Supõe também o esforço em favor de uma ordem social mais justa, na qual as tensões possam ser mais bem resolvidas e os conflitos encontrem mais facilmente sua solução por consenso”. Igualmente, os métodos participativos de gestão colaboram para efetivação de relações mais solidárias no ambiente de trabalho.

A solidariedade passa a ser uma qualidade muito importante nas relações humanas. É nas relações humanas que ela se manifesta, fundamentando-se em valores como compaixão, capacidade de se colocar no lugar do outro, de sentir com o outro, e principalmente na generosidade, que se traduz no espírito de gratuidade. Gratuidade que muito mais que fazer ou dar coisas de graça, significa estar pronto para servir ao próximo na reciprocidade.

Pautar esses valores na Gestão com Pessoas pode ser uma maneira de tornar o clima no ambiente de trabalho mais leve e agradável. Além do mais, esses valores trazem um clima de justiça, de fraternidade, no qual as atividades da missão passam a serem realizadas com mais alegria. A prática da solidariedade na organização irmana a todos e gera sentimentos de felicidade entre os colaboradores.

A Gestão com Pessoas, para ser solidária, necessita superar o modelo individualista e capitalista e adotar um modelo coletivo participativo. Este se dá na prática, por meio do modelo de co-gestão ou pelo modelo de autogestão.

A autogestão é o modelo no qual a organização do trabalho, desde a decisão até o controle da execução, é exercida de forma plena pelos colaboradores. O modelo de autogestão é muito citado em organizações de economia social ou organizações civis solidárias; ele se caracteriza pela participação, como afirma Motta (1983):

A autogestão constitui-se na forma mais radical e globalista de participação, pois no sentido claro e restrito do termo, significa a autonomia dos membros de uma organização para definir os destinos, os métodos e os resultados da ação da organização em que trabalham[2].

No modelo de autogestão, predomina um ambiente de democracia participativa, liberdade e eficiência, e a autoridade é exercida por uma gestão social, abandonando-se a estrutura autocrática e autoritária.

O modelo de co-gestão tem como objetivo favorecer a integração dos colaboradores, as rotinas de trabalho capitalista, com foco no aumento da produtividade. Permite que os colaboradores intervenham na concepção e na fixação de políticas gerais da organização, limitando-se somente em nível de conselho de gestão. Em síntese, neste modelo os colaboradores participam nos meios e não nos fins da organização. Na ótica da democracia participativa, podemos afirmar que a co-gestão usa um método de gestão em que a participação do colaborador na tomada de decisão é parcial.

Podemos constatar que toda a ação de São João Calabria foi pautada pela solidariedade. Foi com um gesto de solidariedade que ele acolheu em sua casa o menino que dormia no portal de sua residência. Este gesto expressa a sensibilidade do Bom Samaritano, aquele que presta socorro, que tem compaixão, que está a serviço das pessoas e marca presença[3]. Na literatura calabriana, pode-se constatar que são inúmeras as pessoas envolvidas e participantes na fundação das primeiras atividades desenvolvidas por São João Calabria com crianças adolescentes e jovens. A solidariedade foi o marco do início da Obra. Enfim, são estes gestos de solidariedade que necessitam serem repetidos no ambiente de trabalho para a organização calabriana ser de fato testemunho vivo do reinado de Deus.

[1] Catecismo da Igreja Católica S. 55.3, & 1948. S. 55.4, & 1940, 1941. S. 55.5, 1942.
[2] Motta, 1983 apud Bronckhorst e Carvalho, 2000. Artigo: Da crise do Capital ao Renascimento no Canavial: Gestão Solidária na Usina Catende-PE. www.aedb.br/anais-seget/gs.htm, consultado em 23/03/2011.
[3] Pe. Jaime Pedro Kohl. Revista A Ponte, n. 2. Calábria, 2008.