terça-feira, 19 de novembro de 2013


 

GESTÃO POR CONSELHOS: Uma prática comunitária de gerir as Organizações

                                                        
 
                                                                 E vendo as vossas obras glorifiquem o vosso Pai que está nos céus! (Mt 5, 16) 
 
Muitos autores, estudiosos e pensadores são unânimes em afirmar que vivemos uma mudança de época. A V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, realizada em Aparecida (SP), em 2007, reconhece que o nível mais profundo desta mudança de época é o cultural (n. 44). Essa mudança de época se faz notar em todos os âmbitos da vida humana e toda a mudança de época também exige mudança de atitude e comportamento. Mudança do jeito de conduzir a Organização, isto é, deixar para traz as relações individualistas e construir novas ralações pautadas pela justiça, solidariedade, gratuidade e serviço, através da gestão por conselhos.
É bom afirmar que a gestão através de conselhos não é invenção deste ou daquele líder (bispo, superior ou ecônomo), pelo contrário, tanto na ótica jurídica civil, assim como as orientações da Igreja Católica, a gestão das organizações por conselhos é uma exigência. Entre outros documentos que nos orientam neste sentido, podemos citar o Código Civil Brasileiro e o Código de Direito Canônico, onde ambos determinam que a gestão das organizações seja feita através de conselhos[1].
Porém, muito mais que uma estrutura jurídica, a gestão por conselhos é incentivada pela Igreja, assim como pela Delegação Nossa Senhora aparecida, por se tratar de uma metodologia de gestão que permite "a vivência das relações essenciais, propostas por Jesus na ceia de despedida para a nova comunidade. Relações que geram a verdadeira comunhão... 'afim de que o mundo creia[2]"'. É uma metodologia que carrega um jeito Calabriano de gerir a Obra que, por meio da participação de irmãos e irmãs na tomada de decisão, gera comunhão, fraternidade e espírito de família.
Os Conselhos podem ser um instrumento, que se for bem conduzido, colaboram para que aja uma real unidade na missão e com ela, a atividade se torna "uma 'obra boa' e calabriana que repara e revela o rosto de Deus Pai no rosto de seus filhos e filhas que fazem parte da Obra. A atividade passa a ser uma profecia e uma 'publicidade' do amor do Pai” [3]. Neste sentido, podemos afirmar que a gestão por conselhos é "expressão simbólica da transcendência, que irrompe na imanência da organização” [4].
Além do mais, somente pelo fato dos conselhos serem formados por pessoas, carrega um grande significado teológico e carismático, para nós que fazemos parte da Obra Calabriana. Na ótica Calabriana, a gestão vai muito além da organização da assistência, do ensino e da pastoral, a gestão da Obra é chamada a levar para as pessoas uma formação integral como afirma, também, nossas regras:
O Nosso trabalho de educação, de assistência, não deve ser considerado nem reduzido a uma simples suplência onde existem carências da parte da sociedade civil. A nossa presença nesta atividade é uma tarefa de fé e de Igreja e deve exprimir a originalidade do Evangelho[5]. (Diretório das Constituições PSDP nᵒ 28, p. 54)
Nesta passagem podemos concluir que o jeito, a metodologia que empregamos para conduzir a Obra é tão importante quanto o que somos chamados a fazer. Na Obra Calabriana, os fins não justificam os meios, pois os meios utilizados para chegar ao fim da assistência, da educação, da pastoral e de uma boa gestão precisam estar alinhados com o carisma e a espiritualidade. Isto é, para uma formação integral da pessoa, a metodologia e o jeito de gerir a atividade deve expressar e testemunhar a fé que professamos como muitas vezes repetia São João Calábria, nossa prática deve expressar aquilo que cremos, e ainda, sejamos evangelhos vivos.
A gestão por conselhos, por se tratar de uma metodologia de gestão que procura vivenciar na prática os valores essenciais como: valores comunitários, participativos e solidários, desencadeia um verdadeiro confronto com os princípios individualistas preconizados pela sociedade contemporânea. Desta forma, a gestão por conselhos torna-se uma verdadeira ação anti-hegemônica, que se confronta com um sistema dominante.  Assim como Jesus Cristo, que não quis realizar sozinho a obra do Reino, mas chamou apóstolos e discípulos para serem seus colaboradores, a gestão realizada por conselhos é um jeito de agir na condução da Organização, que evangeliza. 
Porém, não basta à estrutura administrativa ser formada por conselhos para que os relacionamentos essenciais sejam vivenciados no interior da atividade. Ele se torna verdadeiro testemunho do reinado de Deus se os conselheiros, de modo especial o coordenador ou diretor do conselho, conscientizarem que os conselhos são formados por pessoas que, a maneira de sujeitos unitários, filhos e filhas de Deus e possuidores do Espírito Santo, deliberam os atos administrativos, pois o conselho é o órgão gestor da atividade pela qual foi constituído. Nesta concepção, os conselhos não são somente consultivos, isto é, se um grupo de pessoas fica a disposição do diretor para serem consultados quando ele achar necessário e no final a decisão é dele, esta concepção é errada, pois é uma concepção de conselhos onde eles deliberam, tomam decisões, usando o dito da gestão colegiada, "o conselho é que tem um diretor e não o diretor que tem um conselho".
Além do mais, se os conselhos forem bem conduzidos, impedem que o gestor (a) tome decisões de forma individualista e assim impedindo que ele se torne uma "pessoa autossuficiente, autocrática e geralmente maquiavélica que em nome do resultado do trabalho evangelizador, exclui os próprios evangelizadores, fazendo que os fins justifiquem os meios e vivendo a mentalidade da sociedade moderna da política de resultado[6]".
Enfim, podemos afirmar que a gestão por conselhos é a expressão da comunidade que traduz os valores do Reinado de Deus: onde todos são irmãos e irmãs, existe igualdade entre homes e mulheres, tem transparência no uso dos bens, a relação é de amigos e não de empregados, o poder é exercido como serviço, a comunidade, o conselho é o lugar de perdão e reconciliação, a oração se faz em comum e, desta forma, o Conselho é onde se vive a missão com alegria.
Ir. Gedovar Nazzari
PSDP


[1] Ver Lei que regem as Associações Lei federal n° 10.406 de 10/01/2002, Titulo II das Pessoas Jurídicas, Capítulo I Disposições Gerais, Artigo 52. Código de Direito Canônico, Art. 132 e 137.
[2] Volume I - Para que o Mundo Creia, Discernimento e avaliação de nossas atividades, 2013. Introdução, p. 1.
[3] Volume III - Para que o Mundo Creia, Discernimento e avaliação de nossas atividades, 2013. P. 3. Grifos do autor.
[4] Agenor Briguenti, A Igreja Perplexa. As novas perguntas, novas respostas, Paulinas, São Paulo, 2004, P. 104.
[5] Diretório das Constituições dos Pobres Servos da Divina Providência, nᵒ 28, p. 54.
[6] CNBB, Palavra de Deus na Vida. Reflexão Lc 6, 12-19. Dia 09/09/2013.

sexta-feira, 1 de março de 2013



GESTÃO: Aspectos Formais e Informais na organização


Nas ultimas décadas a gestão vem assumindo sempre mais importância no cenário organizacional. Nunca se usou tento o termo gestão como hoje, e muitas vezes de forma imprópria. De fato, a ação gerencial foi por século entendida de forma fragmentada, imediatista, pouco racional, muito operacional e pouco estratégica. Em uma sociedade em que se prioriza a realização em menor tempo possível, que valoriza o pragmatismo e exige resposta imediata, entendemos por que muitas vezes se valorizam mais a ação, o fazer que a compreensão.
Por outro lado, já passou o tempo de definir gestão reduzindo-a somente como ferramenta gerencial racional e prática. Hoje muitos autores abordam a gestão como um processo bem menos racional do que a literatura clássica há mais de século vem afirmando.
Já chegou o tempo de o gestor saber que gerir não se limita a liderar, tomar decisão, agir no sentido de executar, fazer; mas que gestão possui uma fase anterior ao executar, pouco praticada, que é o planejar e uma fase posterior ao fazer, que sintetiza a idéia de controle, que é o processo de avaliar. A gestão precisa ser entendida como o processo de interação destas três fases: planejar, executar e controlar/avaliar. Além do mais, este processo de planejar, executar e controlar/avaliar “tem como objeto a organização e como objetivo a criação de valores”. (Borges S. Trescastro, 2011, p. 42).
Essa idéia de organização nos leva a concluir que para a gestão calabriana, o objeto é a Organização Civil Solidária, que neste caso assume contorno bastante diferente da organização pública ou da organização do setor privado. Assim também, o objetivo da gestão da Organização Calabriana, possui contorno diferente das organizações congêneres, visto que sua meta é a produção de valores humanos vinculados ao carisma organizacional, valores de cidadania e de solidariedade fraterna.
A gestão entendida como processo de interação, de relação nos leva a uma visão de organização onde apresentam duas fases interdependentes: uma aparente e outra oculta. A fase aparente é aquela denominada também de formal e a oculta é a dimensão informal da organização. Muitos autores ao definir organização formal como um sistema cooperativo, onde a comunicação é fator preponderante, indiretamente admitem que as organizações possuam os dois aspectos, isto é, o formal e o informal.
A fase formal da organização são os elementos escritos, registrados, formalizados pela gestão. É na fase estrutural-formal que incidem as tecnologias e os sistemas de gestão, traduzindo os aspectos práticos visíveis da organização. É bom enfatizar que o traço formal da gestão é ainda hoje preponderante quando se trata de administração. Isto se deve ao fato de que a gestão possui ainda uma forte influência do pensamento administrativo clássico, com inspiração nos escritos de autores como Frederick W. Taylor, Henry Ford, Henri Fayol, entre outros. As ferramentas de gestão de inspiração clássica possuem uma visão estritamente funcionalista e mecanicista de organização que nem sempre favorecem a interação. Por isso que muitas vezes os gestores com uma tendência fortemente humanista preferem uma gestão altamente informal, que muitas vezes se torna prejudicial para o bom desempenho da atividade.
Por outro lado, o gestor tem que reconhecer que estes atributos formais da organização muitas vezes contrastam com valores culturais que com o tempo moldam a forma de relacionamento interpessoal. Esses elementos culturais conformam a dimensão informal da organização, revelando sua face oculta, que pode ser definida como aquela constituída pela expressão de relações não registradas em documentos ou normas; constituída de interações não documentadas ou formalizadas. Podemos dizer que a relação informal é a comunicação que ocorre nos corredores da atividade, quando o método de gestão não é participativo.
Podemos afirmar que hoje, um dos principais desafios dos gestores é buscar a compatibilização entre o nível de formalização e o grau ideal de flexibilidade e participação que contemple a fase informal existente nas relações interpessoais nas atividades. Por que, de fato, os excessos de informalidade ou de formalização são prejudiciais para o desenvolvimento da organização. (Berge S. Trescastro, 2011, p. 62 e 63)
Quando nos referimos aos aspectos formais e informais da organização são os mesmos de muitas outras dualidades como: teórico e prático, racional e emocional, objetivo e político; que muitos gestores possuem dificuldade de compatibilizar em seu agir. Enfim, para uma gestão ideal essas duas fases precisam ser contempladas, caso contrário o gestor e sua organização não chegarão a bom termo. Em outras palavras, os gestores precisam reconhecer que no método de gestão que irão empreender ambos os aspectos, formal e informal, emocional e racional, prático e teórico, objetivo e político devem ser contemplados na sua medida certa. Somente assim os objetivos organizacionais são alcançados com eficiência, eficácia e efetividade.

Ir. Gedovar Nazzari
           PSDP
Para reflexão na reunião de gestores:
1 – Nas atividades, temos de fato dificuldade de planejar e avaliar\controlar?
2 - Como equilibrar os aspectos formais e informais na gestão?
3 - Por que muitas vezes temos a tendência de sermos informais na gestão e não usamos as ferramentas de gestão que são colocadas ao nosso alcance?
4 – Quais as razões que muitas vezes encontramos gestores excessivamente práticos e racionais que possuem dificuldade de constituir um ambiente de trabalho onde se valorize as relações sem esquecer os resultados?

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


CENTRO EDUCASIONAL SÃO JOSÉ OPERÁRIO - CESJO
Vinte e cinco anos de providência 

A Congregação Pobres Servos da Divina Providência aportou em São Luis, capital do Estado do Maranhão, em 1983. No ano seguinte, deu inicio a atividade do Lar Calábria no centro da capital, São Luís, responsável pelo acolhimento de crianças e adolescentes em situação de rua. Cinco anos depois, mais precisamente no dia 10 de fevereiro de 1988, foi inaugurado o Centro Educacional São José Operário, também conhecido popularmente como CESJO. Localizado no bairro Cidade Operária, periferia da Cidade de São Luis, o CESJO, completa este ano seu 25º aniversário de serviços prestados a comunidade, sendo Providência para jovens e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. 
O bairro Cidade Operária é um conjunto habitacional construído na década de 1980 com 7.500 unidades. Porém, o bairro não parou nas casas construídas de forma planejada. Nos anos posteriores a sua inauguração, as ocupações avançaram de forma completamente desorganizada e hoje o bairro Cidade Operária e adjacência compreendem quarenta e seis vilas, totalizando um contingente de cerca de 250 mil habitantes. 
O Centro Educacional São José Operário foi a primeira escola do bairro da Cidade Operária. Nos dias atuais, ainda é a única escola que disponibiliza ensino regular e profissionalizante concomitantes. 
Na atualidade, além do Núcleo de Ensino, o CESJO oferece atividades no Núcleo de Habilitação e Reabilitação de Pessoas com Deficiência e no Núcleo de Acolhimento Institucional de Crianças e Adolescentes. Sendo que até pouco tempo o acolhimento institucional de criança e adolescente estava ligado ao Lar Calábria. 
O Núcleo de Ensino do CESJO corresponde o setor de ensino regular e Educação de Jovens e Adultos, e ensino profissionalizante. No setor de ensino regular oferece 1.600 vagas para alunos em situação de vulnerabilidade social do ensino fundamental e médio e na Educação de Jovens e Adultos oferece 240 vagas, sendo que para estes alunos as aulas são no período noturno. No setor de ensino profissionalizante são oferecidos cursos na área de metal-mecânica, mecânica automotiva, padaria e confeitaria, auxiliar administrativo, informática, corte e costura, cabeleireiro, entre outros, possibilitando que mais de 800 alunos por ano possam ser capacitados para o mundo do trabalho. 
Em 2007, no impulso da reflexão da Campanha da Fraternidade, o CESJO deu início ao atendimento na área da pessoa com deficiência através do Projeto Ariane. Hoje o Núcleo de Habilitação e Reabilitação Ariane desenvolve atividade na área de reabilitação social, clinica e profissional. A inauguração do Ginásio Poliesportivo, em 2010, destinado a reabilitação deu ao projeto um grande impulso, e além do mais, foi um marco para a cidade na valorização das pessoas com deficiência. Graças ao empenho na defesa da cidadania das pessoas com deficiência, o CESJO, está preste a assinar convênio com o Município de São Luis para implantar o primeiro Centro-Dia de Referencia para Pessoa com Deficiência do Estado do Maranhão. Este projeto vai possibilitar que pessoas com deficiência e com alta dependência terão um espaço de acolhida onde poderão permanecer durante o dia todo. 
Enquanto que no Núcleo de Acolhimento Institucional de Criança e Adolescente são atendidas 24 crianças em modalidade de Casas Lares. As crianças que freqüentam as Casas Lares são as que mais se enquadram no perfil calabriano de assistência, por se tratarem de pessoas marginalizadas pelo efeito da pobreza e pelo abandono da família. Estas crianças são as verdadeiras “pérolas calabrianas”. 
Para continuar a servir as pessoas que mais precisam, nos tempos atuais, o Centro Educacional São José Operário precisava se atualizar, por isso, está passando por uma profunda reestruturação física, administrativa e filosófica sem, contudo, perder sua visão e missão. 
Nestes vinte e cinco anos desta missão, foram muitas as pessoas, religiosos e leigos, que gastaram suas vidas ou parte delas para que mais pessoas pudessem ter vida em abundância. Foram muitas as instituições públicas e privadas que aqui investiram e sonharam em contribuir na formação de um mundo melhor, mais humano, mais solidário e fraterno. Entre estas pessoas e estas instituições quero destacar a Fundação Dr. Marcelo Candia, instituição feita de pessoas sensíveis que sempre caminharam lado a lado com esta missão. Enfim, a exemplo de Dr. Marcelo, A Fundação sempre esteve presente, principalmente nos tempos difíceis como são os momentos de mudanças, oferecendo-se para ajudar sem ambição, mas somente com o desejo de ajudar os irmãos que precisam. 

Ir. Gedovar Nazzar - PSDP