quarta-feira, 28 de julho de 2010

EMPREENDEDORISMO SOCIAL CALABRIANO


O Gestor Calabriano deve ser um empreendedor social e um gestor da missão e do carisma. Mas para entender essa afirmativa necessitamos compreender o que quer dizer o termo empreendedor social.

O termo empreendedor é muito utilizado na esfera da gestão para se referir a pessoas que têm competência e criatividade, persistência, liderança, iniciativa, flexibilidade, habilidade para conduzir situações diversas e adversas e visão para dar-se conta das possibilidades que tem ao seu redor para colocar em prática e expandir a missão organizacional.[1]

Porém, devemos reconhecer que essa palavra foi associada deliberadamente à área de negócios, com vistas à obtenção de lucro, sem a devida importância com as consequências sociais. Em outras palavras, o empreendedorismo de negócio nem sempre deu ao termo empreendedorismo o cunho social que ele possui.

Na verdade empreendedor define-se como a pessoa que se compromete com um projeto ou atividade significante e que provoca mudanças na sociedade. Podemos afirmar que existem dois tipos de empreendedor: o empreendedor de negócios e o empreendedor social. O empreendedor social diferencia-se do empreendedor de negócios, porque possui uma missão social, em que o objetivo final não é a geração de lucro, mas o impacto que sua ação social causa na comunidade local e muitas vezes com consequências globais. Enfim o empreendedorismo social não tem finalidade econômica, mas humana e social; deseja contribuir para a criação de um mundo melhor e que defenda a vida.

Nesse sentido, Gregory Dees (1998) define com muita clareza o que é ser um empreendedor social. Para o autor, empreendedor social é “uma das espécies do gênero dos empreendedores”. Porém, acrescenta que eles “são empreendedores com uma missão social. Os empreendedores sociais têm o papel de agentes de mudanças no setor social". E Dees aponta cinco características comuns para um empreendedor social. Que são:

1) "Adotar uma missão de gerar e manter valor social;
2) "Reconhecer e buscar implacavelmente novas oportunidades para servir a tal missão";
3) "Engajar-se num processo de inovação, adaptação e aprendizado contínuo";
4) "Agir arrojadamente sem se limitar pelos recursos disponíveis";
5) "Exibir um elevado senso de transparência para com seus parceiros e público e pelos resultados gerados".
[2]

Como exemplo de empreendedor social, pode ser citado São João Calábria. Porque todo o seu agir tinha um único objetivo, que era o de levar as pessoas a uma vida mais santa e feliz e a uma sociedade melhor para se viver. Além do mais, toda a sua ação foi conduzida por uma profunda clareza da missão, coragem de empreender iniciativas inovadoras, e seus projetos não se limitavam aos recursos financeiros. Sua missão era fortemente fundamentada na certeza da paternidade de Deus e por isso seu empenho era o de criar uma sociedade mais livre e fraterna. Enfim, ele sonhava com uma “nova ordem”, fundamentada no espírito do Evangelho.

Nesse sentido, é muito ilustrativo o fato ocorrido no primeiro compromisso pastoral de Pe. Calábria, após sua ordenação Sacerdotal, no Oratório Santo Estêvão, na atividade de assistência aos jovens. Escreve Gadili (2001) que, para essa atividade, a Paróquia disponibilizava de uma área física limitada, isto é, o local tinha somente uma entrada relativamente ampla, um teatro e uma sala multifuncional, a qual era usada para praticamente todas as atividades paroquiais, inclusive as reuniões do pároco. Ocorria que, com esse exíguo espaço, nos dias chuvosos e frios, comuns em uma boa parte do ano na Itália, a sala nem sempre estava disponível para os jovens, os quais ficavam do lado de fora, expostos às intempéries.

Esse fato foi o suficiente para aflorar o espírito de empreendedor social em São João Calábria. Ele logo se deu conta de que precisava construir um espaço favorável para acolher esses jovens. E partiu para a ação, elaborou um projeto e apresentou-o ao Pároco, o qual autorizou a realização da construção, porém, logo foi esclarecendo, que a Paróquia não possuía os meios necessários para efetivar tal projeto.

Diante da primeira dificuldade econômica, ele não cruzou os braços, não desistiu, mas renovou sua persistência e fé na Providência, e foi falar com seu amigo e benfeitor Francisco Perez, que também constatou a utilidade do projeto para atender aos jovens do bairro e se empenhou em providenciar o material, enquanto Calábria buscou os operários com ajuda da própria paróquia. O resultado foi que em pouco tempo o novo espaço estava construído para abrigar os jovens que frequentavam o oratório. E a nova construção possibilitou o atendimento de um número maior de jovens em situação de vulnerabilidade social.[3]

Muitas outras iniciativas empreendedoras de São João Calábria poderiam ser citadas. Porém, o mais importante é reconhecer que, a exemplo de São João Calábria, o gestor calabriano precisa possuir um espírito de empreendedor social. Isto é, o gestor calabriano precisa ter clareza do significado que tem o carisma e a missão a que é chamado a conduzir. Necessita ter Espírito de disponibilidade e transparência para partilhar a missão: em primeiro lugar com as pessoas que participam da atividade, de modo especial com os Conselhos e colaboradores, e depois com a comunidade alvo, com as parcerias e com a sociedade mais ampla.

Além disso, o empreendedor calabriano precisa ser um empreendedor social com boa dose de coragem para arriscar, muito além dos cuidados com os processos administrativos; e principalmente, enxergar ao seu redor as possibilidades para desenvolver e para pôr em prática a missão organizacional, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
Em síntese, o Gestor calabriano precisa ser um empreendedor social que se ocupe antes de tudo com a gestão da missão e do carisma. Somente assim, a atividade conduzida por ele se tornará luz que ilumina o mundo atual, como era o desejo de São João Calábria.

Ir. Gedovar Nazzari


[1] REGINATO, Antonio Paulo. Equipes campeãs: Potencializando o desempenho de sua equipe/ Antonio Paulo Reginato; Rosana Fraga Pinheiro. 2 Ed – Porto Alegre: SEBRAE/RS, 2004.
[2] Dees, Gregory J. O Significado de Empreendedorismo Social. Universidade de Stanford, 1998. http://www.academiasocial.org.br/ – Acesso em: 14/06/2010.
[3] Gadili, Mario. São João Calábria: bibliografia oficial – São Paulo: Paulinas, 2001.

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